
Sabia que o veganismo vai além da alimentação?
Sempre que falamos sobre veganismo, a primeira impressão que muitas pessoas têm é a de que estamos falando de uma dieta.
Afinal, o que chama mais atenção dos não adeptos ao veganismo é o fato dos veganos não comerem carne e produtos de origem animal.
Porém, quando resumimos o veganismo a apenas esse conceito, estamos na verdade deixando de lado o fator mais importante para os veganos: a ética que move um estilo de vida, e não apenas uma dieta.
É isso mesmo! A filosofia de vida vegana vai muito além de simplesmente controlar o que se come e consome. Envolve vivência integral de valores éticos, que são demonstradas através das escolhas de consumo que os veganos acreditam serem justas e sustentáveis para os animais, para o planeta e para os humanos que dependem de um ecossistema saudável para sobreviver.
Neste texto você vai entender porque o veganismo vai além da alimentação, confira!
- O que é veganismo?
- Como surgiu e quem inventou o veganismo?
- Ideologia, estilo de vida e valores veganos
- Veganismo e saúde: ser vegano faz mal?
- Veganismo e Sustentabilidade
- Mas como saber se o produto é vegano?
O que é veganismo?
Segundo a Vegan Society, conhecida como a organização vegana mais antiga do mundo, fundada em 1944, o estilo de vida vegano busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais para alimentação, roupas ou qualquer outro propósito. Por extensão, promove o desenvolvimento e o uso de alternativas sem animais para o benefício deles, dos humanos e do meio ambiente. Em termos dietéticos, promove a prática de dispensar todos os produtos derivados total ou parcialmente de animais.
Muito mais complexo e abrangente do que apenas escolher não comer carne, não é mesmo?
Os veganos não apenas levantam a bandeira do que acreditam, eles vivem com a intenção de praticar no dia a dia, das pequenas às grandes escolhas, ações para criar um mundo no qual nenhum animal seja prejudicado a serviço dos humanos. Não é sobre o que falam, é como agem, vivem, experienciam sua existência no mundo.
Por exemplo, os veganos lideram a maioria dos protestos contra exploração animal, como força de trabalho, puxando charretes ou como entretenimento, em circos e zoológicos.
Essas pautas não têm absolutamente nada a ver com o que comem, mas com a saúde e bem estar dos animais.
Afinal, animais forçados a se apresentar para o entretenimento humano, por exemplo, são impedidos de viverem sua essência, são retirados do seu habitat natural, forçados a desempenhar atividades que não fazem parte da sua natureza e, para isso, são treinados com base em técnicas que causam dor e sofrimento físico e psicológico.
O estilo de vida vegano envolve evitar ativamente qualquer prática que prejudique o bem-estar animal ou que objetifique a vida de animais para servir os humanos.
Os veganos tratam a vida dos animais com total equidade com a vida dos seres humanos.
Como surgiu e quem inventou o veganismo?
Embora hoje seja considerado um estilo de vida, o veganismo surgiu em 1944 como um tipo de dieta, algo mais parecido com o que chamamos hoje de vegetarianismo.
Em 1949, apareceu a primeira definição de veganismo, feita por Leslie J Cross, um dos membros da Vegan Society: “[o] princípio da emancipação dos animais da exploração do homem”.
Logo depois a definição sofreu intervenções de outros membros e passou a ser “buscar o fim do uso de animais pelo homem para alimentação, mercadorias, trabalho, caça, vivissecção e por todos os outros usos que envolvam a exploração da vida animal pelo homem”.
A Vegan Society foi registrada em 1964 como uma instituição de caridade em prol do bem estar animal, e em 1979 se tornou uma sociedade anônima.
Foi quando a definição de veganismo foi aprofundada, alterada e refinada. Mas foi só em 1988 que a definição atual que citamos acima passou a ser utilizada.
Veganismo hoje no Brasil
Segundo uma pesquisa de inteligência do IBOPE, conduzida em 2018, 14% da população brasileira se declara vegetariana. Isso corresponde a cerca de 30 milhões de brasileiros, mais ou menos três vezes a população de Portugal, por exemplo.
Infelizmente, não existe ainda no Brasil dados oficiais sobre o número de veganos. Porém, poderíamos chegar a um número estimado considerando a porcentagem de veganos (dentre vegetarianos) em países em que existem dados como esse.
Por exemplo, nos EUA, cerca de 50% dos vegetarianos (16 milhões de pessoas) se declararam veganos e, no Reino Unido, cerca de 33% dos vegetarianos (1,68 milhões de pessoas) se declararam veganos.
Se adotarmos a porcentagem mais conservadora (33%), temos que dos 30 milhões de brasileiros vegetarianos, cerca de 10 milhões seriam veganos, em 2018.
Ideologia, estilo de vida e valores veganos
Segundo o manifesto da Sociedade Vegana, fundada em 14 de março de 2010, o veganismo é uma filosofia de vida que deve ser pautada segundo éticas fundamentais de direito dos animais.
A partir do momento em que reconhecemos que os animais são seres sencientes, ou seja, que são capazes de sentir sensações e sentimentos de forma consciente, eles devem ser incluídos em nossa comunidade moral e ter seus interesses respeitados. São eles:
- a continuidade de sua própria vida;
- a liberdade e autonomia para buscar os meios para sua sobrevivência e seu bem-estar;
- não serem utilizados como recursos ou meios para fins humanos, tendo sua existência como propósito em si mesma.
Sendo assim, o veganismo rejeita o consumo de todos os produtos e atividades que implicam exploração animal:
- alimentação: consumo de carne de quaisquer animais, vertebrados ou invertebrados, ovos, leite, gelatina, mel, cochonilha, etc.;
- vestuário: uso de couro e outras peles, lã, penas, plumas, seda, etc.;
- entretenimento: zoológicos e aquários, circos com animais, rodeios, touradas, corridas de animais, feiras e exposições de animais, rinhas, vaquejadas, farras-do-boi, cavalgadas, esportes que utilizam animais, etc.;
- trabalho animal: tração e transporte, cão-guia, cão farejador, cão policial, cão segurança, etc.;
- experimentação animal: procedimentos científicos ou didáticos, testes de segurança ou de qualidade de produtos diversos;
- caça e pesca;
- comércio de animais domésticos, exóticos ou silvestres;
- utilização de animais em rituais religiosos;
- outras formas de exploração animal.
Veganismo e saúde: ser vegano faz mal?
Assim como qualquer outra dieta, restritiva ou não, é preciso que se tenha um cuidado em consumir todos os nutrientes que o corpo necessita para funcionar de maneira adequada.
Sendo assim, quando se inclui essa preocupação, uma dieta vegana pode ser altamente nutritiva, reduzir o risco de doenças crônicas e ajudar na manutenção do peso ideal para cada pessoa. Afinal, uma dieta vegana equilibrada é rica em nutrientes e pobre em gorduras saturadas.
No entanto, as pessoas que comem apenas alimentos vegetais precisam estar mais cientes de como obter certos nutrientes, incluindo ferro, cálcio e vitamina B-12, que geralmente vêm de uma dieta onívora. Buscar a ajuda de um profissional no início do processo de transição pode ajudar os novos adeptos a garantir que estão consumindo tudo que precisam.
Além do mais, uma dieta vegana adequada e equilibrada, além de fornecer todos os nutrientes que o corpo precisa, pode também diminuir alguns riscos à saúde associados com o consumo de gordura animal, como doenças cardiovasculares, câncer e diabete tipo 2.
Cardápio vegano: Saiba o que compõe a dieta vegana.
Quando pensamos na dieta vegana, as restrições logo vêm à cabeça, porém diferente do que muitos pensam, a dieta vegana tem mais a ver com diversidade do que se consome do que com a falta de algum produto.
O prato vegano é variado, cheio de texturas, gostos, possibilidades e cores.
Podem e devem ser incluídos:
- Tofu, tempeh e seitan: fornecem uma alternativa versátil e rica em proteínas e podem substituir carnes, peixes, aves e ovos em muitas receitas;
- Leguminosas: alimentos como feijão, lentilha e ervilha são excelentes fontes de muitos nutrientes e compostos vegetais benéficos;
- Nozes e manteigas de nozes: especialmente variedades não branqueadas e não torradas, que são boas fontes de ferro, fibra, magnésio, zinco, selênio e vitamina E;
- Sementes: Principalmente cânhamo, chia e linhaça, que contêm uma boa quantidade de proteínas e ácidos graxos ômega-3;
- Leites e iogurtes vegetais fortificados com cálcio e vitaminas B12 e D: ajudam os veganos a atingir a ingestão de nutrientes recomendados;
- Algas: a espirulina e a clorela são boas fontes de proteína completa e outras variedades são ótimas fontes de iodo;
- Levedura nutricional: esta é uma maneira fácil de aumentar o teor de proteína de pratos veganos e adicionar um sabor de queijo interessante, que também podem ser encontrada fortificada com vitamina B12;
- Grãos integrais, cereais e pseudocereais: são ótimas fontes de carboidratos complexos, fibras, ferro, vitaminas B e vários minerais. Espelta, amaranto e quinua são opções especialmente ricas em proteínas;
- Alimentos vegetais germinados e fermentados: pão de Ezequiel, tempeh, missô, natto, chucrute, pickles, kimchi e kombucha geralmente contêm probióticos e vitamina K2;
- Frutas e vegetais: são ótimos alimentos para aumentar a ingestão de nutrientes. Verduras como espinafre, couve, agrião e mostarda são particularmente ricas em ferro e cálcio.
Veganismo e Sustentabilidade
Há um consenso científico de que, hoje, uma das principais e mais eficientes estratégias para criar um sistema alimentar sustentável e que dê conta de combater os principais riscos ambientais é a diminuição drástica do consumo de carne.
Pois esse consumo está relacionado com maior impacto ambiental que as escolhas humanas causam na natureza. De acordo com o Sistema de Estimativas de Gases de Efeito Estufa, a pecuária foi responsável por 73% das emissões de CO2 no Brasil em 2019.
O veganismo na indústria da moda
Como falamos até aqui, o veganismo é uma filosofia de vida e ele precisa englobar todos os aspectos da sociedade, incluindo também a roupa que a gente veste.
A moda vegana vem a partir da ideia de que é possível hoje ter uma moda que não agrida ou use a vida de animais na sua produção.
Isso significa evitar materiais como lã, couro, pele, seda e inúmeros outros produtos de origem animal. Afinal, muitos deles hoje já possuem alternativas mais éticas e sustentáveis que não vêm de animais.
Por isso, os veganos deixam de lado qualquer marca que use algum tipo de crueldade animal nos produtos e subprodutos da sua produção. E optam pelas que também não usam produtos, como tingimentos e outros processos químicos que venham causar impactos irreversíveis ao meio ambiente.
Nem todo produto de origem vegetal é vegano
Isso quer dizer que nem todos os produtos livres de sacrifício animal são veganos. Eles só serão veganos se seguirem também a filosofia vegana, ou seja, não causar danos à natureza. Afinal, quando poluímos rios, estamos também agredindo toda a vida que depende dele, inclusive a nossa.
A produção convencional de algodão, por exemplo, embora pareça ser vegana, afinal é de origem vegetal, consome muitos recursos e usa muitos produtos químicos e corantes. No geral, não é um processo sustentável.
Lembre-se de que parte de um estilo de vida vegano é viver de forma sustentável. É sempre bom dar um passo a mais e usar não apenas roupas de origem vegetal, mas também roupas sustentáveis.
Parece ser um conceito difícil de seguir, mas hoje já é possível encontrar diversos produtos no mercado da moda que seguem essa filosofia.
Muitas marcas estão fazendo um trabalho excelente unindo de maneira eficiente e consciente matérias primas vegetais e a preocupação com a sustentabilidade do planeta. São essas as marcas que podemos considerar de verdade veganas.
Linus, primeira marca de sandálias veganas do Brasil!
A Linus surgiu para oferecer aos consumidores uma alternativa ao consumo tradicional anti-ético e cruel com os animais e com o meio ambiente.
Feitas de um PVC ecológico expandido, as sandálias Linus são 100% recicláveis, livres de metais pesados, com plastificantes de origem totalmente vegetal e com 70% de fontes renováveis em sua composição.
Elas mostram que conforto e sustentabilidade não só podem, como devem andar juntos.
Os modelos anatômicos se ajustam ao pé e proporcionam uma caminhada mais confortável, sem comprometer o percurso de quem ainda está por vir.
Mas como saber se o produto é vegano?
Como falamos até aqui, ser vegano engloba muitos questionamentos e muita pesquisa. Ler rótulos, falar com produtores e questionar fornecedores faz parte da rotina diária de todo vegano.
Tentando simplificar, você pode começar a considerar um produto como vegano se:
- Ele tem selo vegano: o selo é dado não à empresa ou à marca, mas sim a cada produto, portanto, qualquer indústria pode solicitá-lo.
- Ele tem selo cruelty-free: para produtos ou atividades que não prejudicam ou matam animais em qualquer lugar do mundo.
Para saber mais sobre veganismo
Até aqui trouxemos as noções básicas sobre o veganismo, mas existem materiais muito legais que podem ajudar a entender mais a fundo essa filosofia de vida. Seguem algumas dicas:
M6NTHS
O documentário em curta-metragem “M6NTHS“, da holandesa Eline Helena Schellekens, acompanha a vida de um porco em uma fazenda de corte, desde o momento de seu nascimento até seu abatimento. Um detalhe importante é que, ao relevar a vida através dos olhos do leitão enquanto cresce, os sons que se ouvem são os mesmos dos animais, já que o filme não tem narração.
Cowspiracy – O Segredo da Sustentabilidade
Descubra com o documentário Cowspiracy como a agropecuária intensiva está dizimando os recursos naturais do planeta e por que essa crise tem sido ignorada por grandes grupos ambientalistas.
Dominion
Dominion é um documentário australiano lançado em 2018 por Chris Delforce. O filme mostra as muitas maneiras pelas quais os animais são regularmente abusados.
E então? Deu para entender como o veganismo vai muito além de uma forma diferente de comer? Agora, que tal pensar nas possibilidades que ele pode trazer para a sua vida? Divida com a gente, nos comentários, as suas experiências.
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