Bastidores do documentário Águas Quentes: detalhes da expedição, baleias jubartes e Ilhabela por Beware Collective
novembro 06, 2023

Bastidores do documentário Águas Quentes: detalhes da expedição, baleias jubartes e Ilhabela por Beware Collective

por Linus

Ilhabela é um destino famoso no litoral norte de São Paulo, conhecido principalmente por suas praias paradisíacas, cachoeiras, turismo gastronômico e passeios de barco. O que poucos sabem é sobre a importância da biodiversidade marinha deste local, uma Área de Preservação Ambiental, que serve também de abrigo para diversos animais migratórios

 Cartaz do documentário "Águas Quentes" com uma baleia no mar

Cartaz Águas Quentes

O objetivo do documentário Águas Quentes é abrir um novo olhar para os turistas e locais sobre a importância da conservação deste habitat, tanto para o meio ambiente, quanto para a economia local. 

Foram meses de pesquisas, produção, logística, dias de gravações de entrevistas com profissionais e projetos locais, mergulhos e avistamentos dentro e fora d'água, para que a equipe vivesse uma imersão e aprendesse sobre o comportamento e ameaças enfrentadas por várias espécies da região.

Nossa jornada

O que nos levou inicialmente a escolher Ilhabela como objeto de estudo para o documentário foi o fato da Ilha, que está tão perto de São Paulo, ser rota de migração das Baleias Jubartes e das Raias Mantas. Buscamos entender melhor porque elas passam por aqui e documentar esses animais, que embora estejam na nossa costa todos os anos, ainda é um acontecimento desconhecido por muitos.

Baleia Jubarte e filhote
Baleia Jubarte e filhote, imagem por Beware Collective

 

 

Com um time de mulheres fotógrafas e filmmakers apaixonadas por vida selvagem composto por Camila Dalossi, Giulia Morales e Juliana Deeke, convidamos uma bióloga para nos acompanhar nessa aventura e trazer o conhecimento técnico e científico que faltava em nossa equipe, assim conhecemos a Giovanna Leite, que nos ajudou a descobrir tudo sobre essas criaturas mágicas e nos acompanhou nessa aventura. 

Giovanna Leite, Bióloga

Giovanna Leite, Bióloga

A Gi dedica sua jornada à preservação dos animais, tem experiências incríveis desde trabalho em um centro de reabilitação de animais silvestres em São Paulo até colaborações com uma ONG de conservação da tartaruga-de-pente no Rio Grande do Norte. Já trabalhou com Sea Sherpherd Brasil, GreenBond Brasil e SOS Pantanal

 

Pesquisa em terra e água

Foto tirada do Instituto Verde Azul
Ponto fixo, VIVA Instituto Verde Azul

 

Além da nossa parceria com a Gi, fomos buscar pesquisadoras e pesquisadores especialistas no assunto, que atuam de diversas formas em Ilhabela. Entrevistamos o Rafael Mesquita que trabalha diretamente em alto mar com o Mantas de Ilhabela e a Megafauna Marinha Brasil que fazem a busca por esses animais e fotoidentificação,  Thaís Freitas que atua no ICMBIO na gestão e monitoramento do Arquipélago de Alcatrazes, Marina Leite que é uma potência dentro da pesquisa de ponto fixo no VIVA Instituto Verde Azul e Marcio Franco, empresário e proprietário do Reserva Ilhabela que trouxe sua experiência com seu negócio na busca por uma economia mais sustentável. 

mulher gravando para um documentário
mulher gravando um documentário
Gravações das entrevistas para o documentário

A jornada dos animais migratórios

Trabalhar com o avistamento de animais selvagens é uma experiência que é regida completamente pela natureza, não temos controle nenhum do que vai acontecer e para nós isso é o que define a adrenalina e a felicidade de gravar um documentário. 

mulher fotografando

Beware a bordo do Megafauna

Tivemos o privilégio de acompanhar nosso apoiador Rafael Mesquita, junto com outros pesquisadores, em busca desses animais. Cada dia era um misto de ansiedade e nervosismo, sem saber o que iríamos encontrar. Tivemos muita sorte de presenciar diversos comportamentos como saltos, formação de grupos competitivos e mães com seus filhotes

homem montando um drone

Rafael Mesquita, pesquisador, fazendo monitoramento por drone

Choramos e nos emocionamos muitas vezes, as baleias são majestosas. Ver um animal tão grande e tão pacífico faz você sentir uma energia diferente, o corpo todo treme, chega a se tornar algo espiritual. Essas fortes emoções renderam boas histórias e cliques engraçados, como quando a Giu e Ca viram a maior jubarte até então, passando bem embaixo do barco e choraram tanto que nem apertaram o botão de play. Ou quando a Ju estava em um barco mais baixo parado e uma baleia jovem se aproximou para interagir, chegando a encostar a barriga no barco, a Ju filmou por 5 minutos corridos com a GoPro com o braço direito dentro d’água e a câmera tremendo na mão esquerda (será que o treino de braço tava em dia? claramente não kkkkk).

baleia embaixo da água

Baleia Jubarte - filmada com a GoPro através do barco (é proibido mergulhar com cetáceos no Brasil)

mulher filmando a baleia

Juliana filmando a baleia com a GoPro embaixo da água e a câmera na outra mão

Momento como o encontro com o filhote recém nascido que fez até a Giu esquecer como fotografava com o drone "Camila, onde aperta para gravar?". Ou quando vimos centenas de golfinhos em volta de nós e a Ca chorando sem nenhum equipamento em mãos falou "pelo amor de deus alguém me dá alguma coisa para eu filmar" e mesmo enjoada quase desmaiando ela subiu o drone e fez takes incríveis. 

mulher pilotando um drone

golfinhos no mar

Camila da Beware pilotando o drone

Ilhabela está na rota de animais que vem para nossa costa em busca de condições mais tranquilas para acasalar, fazer aquela social, descansar, como as Jubartes que fazem paradas por aqui antes de chegar no nordeste brasileiro para ter seus filhotes e retornam em sua longa jornada de volta à Antártica, onde se alimentam. Imagina só viajar mais de 4 mil quilômetros em jejum? Não é pra qualquer um!

 

Ameaças

Nós temos o costume de afastar o que acontece do oceano de nós, porém ele é responsável por aproximadamente 98% do oxigênio atmosférico, o cuidado com esse ecossistema é imprescindível para a saúde do nosso planeta. Infelizmente as ações humanas têm impacto direto nos mares: o consumo exagerado e descarte incorreto de lixo, a pesca industrial, a poluição química e sonora, entre outras atividades humanas. 

Estima-se que mais de 11 milhões de toneladas de plástico cheguem aos oceanos e que mais de 1 milhão de animais marinhos sofrem por conta desses detritos todos os anos. 

Mas o maior vilão atual contra animais como baleias e golfinhos é a Captura Acidental: o "bycatch" ocorre quando animais que não são alvo da pesca, são capturados acidentalmente. Isto é causado por diversas modalidades, como a pesca de arrasto. Estima-se que 4 milhões de toneladas de animais são descartados anualmente. Muitas vezes são descartados machucados no mar, causando morte e sofrimento. Por exemplo, enquanto se pesca um cardume de peixes, acidentalmente se capturam animais como tartarugas, golfinhos e tubarões. 

Além da Captura Acidental, outros acidentes com redes e detritos humanos podem acontecer, animais emalhados podem sofrer amputação de membros ou morrer por asfixia e afogamento.  Mais de 300.000 baleias e golfinhos são mortos anualmente no mundo pelas práticas exploratórias da pesca industrial

ilustração de uma tartaruga em rede de pesca

Ilustração por Beware Collective

 

A visita ao Arquipélago de Alcatrazes

O Arquipélago de Alcatrazes é um local fundamental para a sobrevivência e preservação da saúde do ecossistema da região, sabe aquela ilha que vemos de longe em praticamente todo o litoral norte? Fica a 45km de Ilhabela e o acesso é permitido apenas com autorização e para atividades de pesquisa e gestão, por ser uma área muito sensível e abrigar animais endêmicos.  

Arquipélago de Alcatrazes

Arquipélago de Alcatrazes

É lá que muitas espécies se reproduzem, a área funciona como um berçário na região, protegendo esses animais para que consigam se desenvolver e assim se espalhar por todo litoral. 

Pudemos participar de duas atividades incríveis do ICMBio,o manejo do coral sol e o trabalho de preservação realizado em terra. Mergulhamos pela região com a equipe, o que foi extremamente divertido e encantador, fomos presenteadas com uma visibilidade incrível e ainda conseguimos escutar o canto de uma jubarte embaixo d'água. 

homens com roupas de mergulhadores no mar

Equipe ICMBio realizando o trabalho de manejo do coral sol

Já no segundo dia, caminhamos pela trilha onde pudemos observar o jardim de bromélias, espécie muito importante para o Arquipélago, ela acaba por armazenar água das chuvas auxiliando na hidratação dos animais que vivem por ali. 

Chegando no topo, tivemos a recompensa com uma  vista 360  da região, baleias saltando  no horizonte e milhares de fragatas nos sobrevoando. Mesmo com o cansaço e muito calor, foi de uma emoção sem igual documentar cenas tão raras nos dias de hoje. 

mulher sentada no barco

Equipe Beware no Arquipélago de Alcatrazes

O que podemos fazer pelo oceano?

O planeta como conhecemos hoje depende totalmente dos oceanos, e vemos os problemas aumentando cada vez mais: branqueamento de corais, mortes de animais essenciais para a saúde da cadeia (sabiam que, por exemplo, se os tubarões desaparecerem isso pode gerar um colapso não só no ecossistema marinho, mas em toda a saúde do planeta?), animais ameaçados de extinção pelo aumento da temperatura da água dos oceanos e por aí vai.

Podemos começar a ajudar com pequenas ações e escolhas no dia a dia que a longo prazo fazem enorme diferença:

 três mulheres de frente para o mar

Equipe Beware em Ilhabela

  1. Consumir menos e de forma mais consciente; buscando o histórico da marca, a matéria prima utilizada e entendendo se você realmente precisa e pode ter esse produto no momento;
  2. Diminuir o consumo de animais marinhos no seu cardápio; 
  3. Evitar o consumo de plásticos de apenas um uso, como copos descartáveis;
  4. Acompanhar o governo da sua região, participando de petições para novas políticas públicas e legislações que possam auxiliar a comunidade local, o turismo e o meio ambiente;
  5. Não compactue com nenhum tipo de turismo onde você encoste ou alimente animais marinhos selvagens, isso faz com que todo o ecossistema se desequilibre; 

Falando especificamente de cetáceos, sabemos que o turismo é uma ferramenta importantíssima para proteção desses animais, mas assim como qualquer ação humana, se feita de forma desenfreada, com certeza os danos serão maiores do que os benefícios, por isso existem regras que devem ser seguidas e é importante não só a fiscalização do governo, mas nós, como turistas, verificarmos se a empresa que está te levando para o passeio também segue as regras - confira aqui as regras de avistamento.

ilustração de uma baleia com cartaz

Ilustração por Viva Instituto Verde Azul

 

Por trás das câmeras

Para um projeto desse acontecer e para conseguirmos filmar todos esses comportamentos selvagens incríveis é preciso o esforço de muitas pessoas. Hoje em dia, é difícil abrir mão do ego e aceitarmos que não somos especialistas em tudo e que muito menos conseguimos chegar ao topo sozinhos. O documentário Águas Quentes não teria saído do papel sem o auxílio de seus colaboradores e muito menos sem a força do sonho da equipe Beware Collective. Conheça mais sobre a nossa equipe por trás das filmagens desses animais  incríveis pelo Instagram Beware Collective. E assista ao documentário completo no Youtube Beware Collective

mulher tirando foto

mulher olhando a vista

Camila fotografando a Linus usando Linus e Giulia em Alcatrazes de Linus

Assista ao documentário

 

https://www.instagram.com/p/CyJGSnJuIY0/

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